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Fotografia por Dario Silva

Os seus desenhos andavam estampados nas muito famosas – principalmente entre os adolescentes – camisolas da OMNI. Pedro Carvalho ilustrou as frases que diferenciavam a irreverente marca de vestuário portuguesa, como “Fazia-te um pijaminha de cuspo” ou “Touradas só na cama”, mas a sua verdadeira paixão é a banda-desenhada e é nessa área que o ilustrador barcelense, de 33 anos, já conquistou dois prémios a nível nacional.

Há um mês, venceu a categoria de “Melhor Obra Curta” da 10.ª edição dos Troféus Central Comics, cuja cerimónia de entrega decorreu no Hard Club, no Porto. O trabalho premiado foi “Animália”, uma pequena história em que a personagem principal é Amália (sim, a fadista…) que se transforma em noites de lua cheia. Há dois anos, o autor já havia sido distinguido na mesma categoria num festival de BD, nos Açores.

Desenha tiras para as revistas “Viana Social e Cultural” e “Cais”, mas a “Zona” é a publicação onde colabora com mais regularidade há cerca de três anos. É uma revista com contribuições de vários desenhadores do país, e não só, que pode ser encontrada em lojas da especialidade e nas FNAC.

O projecto surgiu de “alguém” que, tal como Pedro Carvalho, estava cansado de meter trabalhos na gaveta. “Chega a um ponto em que, se não se está a desenhar para mais nada além do gozo próprio, começa a fartar um bocadinho”, aponta o ilustrador que, com a participação na “Zona”, ganhou “novo interesse em fazer banda-desenhada”.

Além de publicar os seus trabalhos, a revista permitiu-lhe conhecer outras pessoas com interesses em comum e “encontrar pessoal com o gosto pela escrita”, uma vez que essa parte, até então, era um “impedimento” para fazer as suas BD.

“Tenho alguma dificuldade na escrita. Posso ter algumas ideias, partilhá-las e a partir daí cria-se uma história, mas não sou eu a escrever”, explica. Os balões são preenchidos por André Oliveira. Foi em parceria com o colega de Lisboa que Pedro Carvalho conquistou os dois prémios que brilham no seu currículo e será com ele que vai lançar os próximos projectos.

EDIÇÃO DE LIVRO NO HORIZONTE

“Um dos trabalhos nasceu de uma brincadeira no Tumblr [rede social na internet] em que íamos fazendo umas tiras semanais com um humor muito parvo”. Houve quem se mostrasse “interessado” e lhes fizesse uma proposta para publicar 50 tiras que foi aceite pelos autores.

No horizonte da dupla está, também, a edição de um livro em três volumes cujo argumento “passa-se no Japão feudal, mas com uma linguagem muito portuguesa”. A obra vai chamar-se “Sohei”, que significa “monge guerreiro”. E terá uma forte componente humorística, que é uma das marcas dos trabalhos de Pedro Carvalho. “O humor dá muito mais gozo”, observa o ilustrador, que não teve qualquer formação na área.

Autodidacta, “aos oito/nove anos já desenhava”, mas a “grande paixão” apanhou-o já na adolescência. “Comecei a comprar banda-desenhada e a criar os meus próprios super-heróis, a fazer as minhas próprias revistas em casa”. A grande inspiração vinha, claro, dos Estados Unidos da América e das criações da Marvel e da DC Comics – “principalmente a Marvel”.

Foram estas duas empresas que ‘deram vida’ ao Super-Homen, ao Batman, ao Homem-Aranha, ao Wolverine, ao Hulk e muitos mais. “Inspirava-me nesses desenhos, mas agora ganhei um traço próprio”, observa Pedro Carvalho que, com o passar do tempo, foi “distanciando-se um bocado” desse estilo que inicialmente lhe captou a atenção e foi descobrindo outros.

O “traço próprio” de que fala ganha forma no papel e na ponta de um “lápis simples”, seguindo-se um “marcador para dar os contornos” e “o resto” do trabalho é desenvolvido no Photoshop [programa de edição de imagem]. “O digital tem a vantagem de poder voltar atrás”, sublinha.

 “NÃO ESTOU A CONTAR VIVER DA BD”

Aliás, se não fosse a era do digital, o ilustrador, natural de Barcelos mas a viver em Famalicão, se calhar, nem estava a desenhar neste momento. A internet possibilita encontrar pessoas com interesses comuns e, assim, fortalecer pequenas comunidades. Foi desse modo que tomou contacto com a “Zona”, o que o fez desenhar com maior regularidade do que até então: “Podiam passar-se meses sem pegar num lápis”. E foi ainda através da World Wide Web, nomeadamente da plataforma de partilha de trabalhos artísticos Deviantart, que conheceu a namorada, Carla Rodrigues, também ela ilustradora, do Porto.

Mas… quais são, afinal, os super-heróis favoritos de Pedro Carvalho? “Sempre gostei muito do Batman, se calhar, por causa dos filmes do Tim Burton. Mas também gosto muito do X-Men”. E quais serão as suas próprias criações favoritas? “Estou a gostar muito de criar as personagens do ‘Sohei’”, responde. Mas também achou “piada” a “ter criado os X-Men portugueses”, uma “versão passada para o universo português”, e a ter concebido a “Animália”.

Empregado de balcão numa loja de electrodomésticos na Rua Direita, o desenhador tem os pés assentes na terra e não acredita que possa um dia viver exclusivamente da BD, uma vez que o mercado em Portugal “é muito pequeno”. “Tem tudo a ver com a dimensão do país, porque há pessoas que fazem vida disto em Itália e França, para não falar nos Estados Unidos, que é a Meca da banda-desenhada”.

Mas isso está longe de desmoralizar Pedro Carvalho: “Não estou a contar viver da BD, mas conseguir lançar as coisas que pretendo já será uma grande vitória”.

Reportagem publicada na edição 92 (série III) do Jornal de Barcelos no dia 3 de Outubro de 2012.

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